Lacan, em “Meu Ensino”1, nos adverte sobre algumas palavras que rapidamente fazem sentido: “é preciso se sacudir depois de tê-las ouvido, e começar a fazer perguntas”.
‘Direção’, em uma Escola de Psicanálise, parece ser uma dessas palavras. As perguntas são constantes e apontam para a “função-Direção”, termo forjado pela Comissão anterior (2019/20). Esse termo desloca o que traria um certo prestígio, poder, autoridade, insígnias narcísicas, para um lugar a ser ocupado, tal qual uma variável x na função matemática.
Nas diversas acepções da palavra ‘direção’, o dicionário analógico nos mostra, entre outras: rumo, vetor e também derrota! Um lugar onde expectativas e fracassos confluem? Onde o ‘cada um’ se impõe e produz, moebianamente, algo do coletivo, sem sucumbir ao efeito de massa?
Esse movimento permanente se suporta no funcionamento da Escola, considerada a “base de operação”2.
Se o Real nos assola de tantos lados – guerras, ameaças, exclusão, sofrimento – nesse momento, voltemos a Lacan que, em “A Terceira”3, afirma que é do Real que depende o analista, e não o contrário. O analista tem por missão “opor-se ao Real” e, assim, abrir a possibilidade de tratar o Real pelo Simbólico, não sem o Imaginário.
Uma Escola teria, pois, como direção, manter essa “base de operação” diante do Real a ser enfrentado. Uma Escola para a Psicanálise, que faça chacoalhar as velhas palavras, que possa trazer outras palavras e seguir fazendo frente a esse Real a nos espreitar.
Comissão de Direção:
Cristina Holzinger, Grace Simões, João Carlos Martins, Mônica Belisário
Notas:
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Lacan, J. “Meu Ensino”. Trad. André Telles. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor,2006, p.23.
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Lacan, J. “A direção da cura e os princípios do seu poder”. In Escritos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998.
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Lacan,J. “A Terceira”. Trad. Analucia Teixeira Ribeiro. Documentos para uma escola IV – Escola Letra Freudiana, 2016, p. 188. (circulação interna)