BH, 05/02/2020
BH, 05/02/2020
Prezados colegas,
segue aí um resumo simples, mas um convite (Resenha) entusiasmado para prosseguirmos nesse tema tão difícil de articular que nomeia nossa XXV Jornada do Aleph.
Na revista Transfinitos nº 01 , Lícia Mara Dias, em seu texto “A lógica da identificação em Freud”, traz de forma cristalina um robusto percurso em vários textos freudianos sobre a operação da identificação como fundante da constituição do sujeito.
Constata esse fenômeno como presente nas várias estruturas clínicas, destacando por exemplo, como que na condição melancólica, uma instalação radical da identificação impede a emergência da condição do objeto enquanto perdido, comprometendo o trabalho de substituição simbólica.
Destaca também, como, a partir de 1920, há uma mudança no trilhamento da teoria freudiana, na qual o princípio de ligação (Bindung) marca a operação primeira do aparelho para dominar a excitação pulsional, ligando-a a uma representação. Acentua aí, com o acento agudo necessário, que trata-se de uma operação lógica e não cronológica, em que “se demarca um campo de (in)diferenciação, no qual o sujeito da linguagem pode vir a se constituir”. A “marca” da percepção que chega primordialmente do campo do Outro, chega como invasão (trauma?) de estímulos ao aparelho incipiente; marca essa que sinaliza que houve percepção e em um mesmo movimento funda o lugar do inconsciente como lugar de diferenciação, que ao incluir a ausência, provê a possibilidade de pensar.
O recurso seguinte, de procurar substitutos, faz com que se tome um traço daquele que foi objeto da pulsão, resolvendo-se como identificação ligada ao significante. Essa operação de eleição de um traço único do objeto ordena o lugar do sujeito no simbólico. O outro momento lógico da operação será aquele no qual o sujeito assume um sintoma do outro e sinaliza o campo do desejo em sua estrutura de falta. O que a identificação traz para o desamparo é a chance do sujeito se fazer representar pelo significante.
Buscar a exatidão na lógica da identificação é fazer valer o princípio de ligação do aparelho, reiterando a ideia inicial de Freud de que a identificação é uma “modalidade de pensar.”
Lícia faz um escrito instigante, que enriquece a teorização freudiana, deixa passar um trabalho de enorme afinidade àquele texto e que nos convida a mais de uma leitura, prazerosa e atenta.
Vanda Pignataro