Atividades

Laços com a cidade

Neste ano de 2025, o “Laços com a Cidade” vem com uma proposta de formato um pouco diferente. O trabalho realizado nos dois últimos anos contou com a participação de alguns coletivos da sociedade civil, que se dispuseram a compartilhar conosco suas experiências de trabalho com a cidade. Nos relatos que nos foram apresentados, ficou clara a busca de alguns desses coletivos de evitarem os problemas decorrentes da formação de grupos – que Freud descreve em Psicologia das Massas. A escuta dessas experiências nos mostrou a necessidade de dar um passo a mais, buscamos uma amarração teórica que forneça insumos para subsidiar e enriquecer nossa interlocução com a cidade. É assim que nos detivemos sobre fenômenos recentes, observados em nosso país e no mundo, especialmente a ascensão do neofascismo e a instrumentalização das crenças por algumas instituições religiosas. Sabemos que a crença se coloca como recurso utilizado pelo sujeito diante do desamparo inerente à condição humana. Diante disso nos perguntamos: o que é a crença na estrutura? Quanto ao fascismo, queremos pensá-lo a partir de duas dimensões que interessam ao nosso trabalho: a da captura da subjetividade e suas incidências no fenômeno político. Sabemos que o fascismo opera mobilizando, sobretudo, os afetos do desamparo e do ódio e que instrumentaliza as crenças com vistas à implantação de regimes políticos autoritários. Nesse esforço teórico, partiremos da seguinte questão: o que a psicanálise tem a dizer sobre a crença e o fascismo como fenômenos que operam no psiquismo e na formação das subjetividades?

Lembremos Freud, em O futuro de uma ilusão:

Assim, o motivo do anseio pelo pai é idêntico à necessidade de proteção contra as consequências da impotência humana; a defesa contra o desamparo infantil empresta seus traços característicos à reação contra o desamparo que o adulto é forçado a reconhecer, reação que é precisamente a formação da religião. (…) Cria-se assim um patrimônio de ideias, nascido da necessidade de tornar suportável o desamparo humano e construído com o material de lembranças relativas ao desamparo da própria infância e da infância do gênero humano.

Em um primeiro momento, propomos orientar nosso trabalho a partir da leitura dos seguintes textos: O futuro de uma ilusão e A negação, de Freud; e Passe e efeito de descrença, de Marie Claire Boons-Grafé (em Transfinitos n. 0, Publicação de Aleph Escola de Psicanálise, BH: Ed. Autêntica, 1999, P.45).

Convidamos vocês a se juntarem a nós nesse esforço de articulação teórica em torno do tema que nos propomos a trabalhar neste ano.

Coordenação de Laços com a Cidade

Elisa Arreguy Maia
Nathália Turcheti
Olga Ferreira
Suzanne Bouchardet