Homenagens ao Jefferson Machado Pinto
Elisa Arreguy Maia
Morreu um homem raro. Um homem é raro. Um bom homem, generoso e gentil, inteligente e atencioso, rigoroso e leve, é bem raro. Um homem feminino – não é demais recomendar que se leiam seus trabalhos sobre a questão feminina, acurados. Era um pai amorosíssimo. Um professor acolhedor, delicado e rigoroso. Jef falava bem, sem afetação, com aquela clareza do bom professor, muitos anos de sala de aula. Foi muito dedicado à UFMG onde trabalhou até se aposentar, e mais ainda. Um analista atento. Um trabalhador incansável. Sempre sorria largo, sem duvidar da possibilidade de sorrir com o outro, era decidido nisso também. Mas não sorria à toa, não sorria demais. Era manso, como um rio. Nunca bobo. Para ele, a psicanálise estava na causa. Trabalhou conosco na Escola, passava ao largo das querelas; entre outras, foi da primeira comissão editorial de nossa publicação e participou da penúltima. Certo dia, lá atrás, enunciou, naquele jeito não grandiloquente dele de ser arguto, enunciou que estávamos fazendo a passagem à escola. Ele estava por lá conosco, leu isso no trabalho. Deixou-nos sua marca. Era um amigo da escola. Era amigo – essa ligação com o outro que nos faz humanos. Na última vez em que nos encontramos na porta da livraria encontrei seu rosto já bem marcado pelo tratamento e seus cabelos tão mais brancos, mas o sorriso era aquele, olhos brilhando sorrindo junto. Falamos dos netos, pequenos segredos. Ele fazia seu interlocutor pensar que era muito especial. E, cada um deles, assim o foi. Perdemos alguém muito raro.
Ao Jefferson Machado Pinto
1948-2022
Heloísa Godoy
Algumas palavras…
Dizer algo sobre Jeff pode-se iniciar falando da sua docilidade,
uma das suas marcas preponderantes. Um sujeito doce e brando
era o Jeff! Nunca perdia o sorriso. Trazia uma hegemonia de
simplicidade para lidar com o outro. Um jeito maneiro e mineiro
de viver a vida. Foi construindo laços estreitos de amizades no
seu percurso, no ato insistente de viver. Saudades dos cafezinhos
no meio da tarde com alguns outros amigos – analistas da
Levindo Lopes. A disponibilidade de trabalho com a Psicanálise
era uma das suas outras marcas. Agradecimentos não faltarão
pela sua participação em momentos importantes na construção
constante do Aleph Escola de Psicanálise, sempre regido pela
modalidade ética do impossível e por um saber não todo.
Apostava nos efeitos da Psicanálise no mundo. Mas Rosa já
anunciava que viver é muito perigoso. E é muito perigoso
mesmo!!! Jeff foi testemunha desse perigo. Enfim, lá se foi um que
lutou em viver. Deixa saudades inúmeras. Sua falta vai sempre
falar dele.