Las cosas
Luto e Melancolia prescinde de aspas. O texto ganha corpo em vários âmbitos do saber e impulsiona o pensar. Nos primórdios de sua teoria, no Manuscrito N, Freud antecipa e atiça a curiosidade do leitor, afirmando ser a identificação um modo de pensar. Em Luto e Melancolia opera-se um modo de pensar, de onde se derivam um gosto do pensar e um gesto do pensar. E assim o texto passa. O que dele se depreende, o que dele se desprende e o que dele fica, a cada leitura, são efeitos que ultrapassam as fronteiras do tempo e do espaço e que nos encontram, a nós, leitores, sempre em pleno movimento, com pequenos pontos de parada onde tomamos fôlego, equivalendo talvez à devida “Einstellung”, à posição de um. O leitor parece assim efetuar, num modo de pensar, um movimento de força contrário à indeslocabilidade que testemunhamos clinicamente no melancólico – este que eterniza a prestação de sua queixa. O piano não se deixa arrastar do lugar.
Da posição do leitor, mais torções se desdobram. O efeito da leitura é o de ”pelear” com a relação de objeto. A escolha dele, a sua ocupação, a renúncia dele, a perda, o abandono dizem da estrutura e do seu impossível. O que se perde quando se perde um objeto?
A leitura de um poema pode evocar o vazio que a vida contorna com “as coisas”?
O poema de Jorge Luis Borges – “Las Cosas” – toca o inexorável. São as coisas que nos perdem.
Coordenação do Seminário de Leitura de Freud
Leitura do poema de Jorge Luiz Borges pelo ator Mario César Camargo.
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